No pequeníssimo quintal de casa resolvi plantar dois pés de poncãs – ou polkãs – sem sementes, uma fruta enorme desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), ainda pouco conhecida no mercado. É encontrada em grandes redes supermercadistas e parte da produção, em pequena escala, é destinada à exportação. O preço do produto ainda é elevado, mas com a disseminação de sua produção, logo estará disponível a todos. Esse meu plantio mantém a chama de minha origem, a roça, da qual muito me orgulho. Mas, plantar sem adubar é matar uma muda, um ser vivo importante, mais ainda por ser alimento saudável.
Há anos tive oportunidade de conhecer Ulisses Girardi, um catarinense que migrou da Filosofia para a industrialização – ou transformação – de resíduos orgânicos renováveis em fertilizantes, em sua Visafértil, situada na saída para Conchal, bem próxima ao trevo do Sobradinho na estrada de Limeira. Não conhecia as instalações da empresa e quantos passam pela estrada não dimensionam o que existe atrás do enorme muro que divisa a propriedade da estrada. Não é uma empresa comum. Nela se respira uma conscientização sem precedentes no respeito ao meio ambiente, em padrões higiênicos de fazer inveja às congêneres.
Ulisses é natural de Benedito Novo, celeiro de padres franciscanos, e parte de sua vida dedicou ao sacerdócio, pregando a palavra divina na Amazônia, onde tomou gosto pelas causas ambientais. E como tomou gosto! Deixou a vida religiosa, mas não se afastou da pregação do bem e do amor ao próximo. A Igreja perdeu Ulisses. O meio ambiente o recebeu de braços abertos. Mogi Mirim também. A par de sua atividade empresarial é dos brasileiros mais renomados e reconhecidos pelas causas em defesa da sustentabilidade. E o faz com o respaldo indispensável de Patrícia Borges Gaffo, sua esposa, e dos filhos Laura e Arthur.
Ao visitar a fábrica, os olhos de Ulisses brilham como os de uma criança à frente de um engenhoso brinquedo. Ele explica, percorrendo as imensas terras de seu empreendimento, toda a operação, desde a aquisição de matéria-prima junto a empresas parceiras, o sistema de compostagem, até a entrega do produto final nas propriedades agrícolas da maioria dos estados brasileiros. Mas, o brilho tem maior intensidade quando, em seu escritório, começa a falar sobre o amor e as ações que desenvolve para a preservação do meio ambiente.
Ulisses é um fervoroso crítico das ações – ou inércia – dos governantes em relação ao respeito ao meio ambiente. Lembra que prefeitos, visando uma maior arrecadação de impostos, atraem aos municípios empresas poluidoras que interferem no ecossistema, aterrando morros, impondo um limite às águas invasoras das comunidades. Ao analisar as enchentes de Santa Catarina, seu estado natal, relata: “se a ocupação do solo fosse mais bem estudada e planejada, as dimensões das enchentes de Santa Catarina seriam menores”.
Palestras sobre meio ambiente e sustentabilidade fazem parte da rotina desse fervoroso defensor da natureza. Esteve neste ano no 2o. Fórum Mundial de Sustentabilidade, em Manaus, onde o ex-presidente Bill Clinton foi um dos palestrantes. Ele é detentor do Prêmio Socioambiental “Chico Mendes”, uma das láureas mais importantes na área de meio ambiência. A Eco Escola Visafertil, com ações e palestras desenvolvidas pela coordenadora ambientalista, profa. Maria Emília Tavares de Oliveira é um legado e um exemplo a todos aqueles que deveriam se preocupar com as causas preservacionistas. Se ao invés de Clinton, o presidente dos EUA, Barack Obama, estivesse no fórum de Manaus, certamente diria à plateia, se referindo a Ulisses: “Esse é o cara”.
Mauro de Campos Adorno Filho é jornalista
e ex-diretor dos jornais O Impacto e Gazeta Guaçuana.
