Palestra discute os destinos do lixo

Palestra discute os destinos do lixo

Com o tema “Lixo a Caminho da Sustentabilidade”, o evento trouxe a visão do lixo como matéria-prima e desfez a ideia de “resto”

Ana Paula Meneghetti

anapaula@jornalcorreiodopovo.net

A palestra realizada no auditório da Associação Comercial e Empresarial de Itapira (ACE) na noite de terça-feira, dia 22, apresentou uma causa nobre. Com o tema “Lixo a Caminho da Sustentabilidade”, o empresário do Grupo Visafértil, ecologista e Corpo Diretor do PNUMA (Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente), Ulisses Girardi e a pedagoga da Eco Escola Visafértil, Maria Emília Tavares de Oliveira levaram como exemplo de sustentabilidade diversas ações da empresa, entre as quais, a produção do fertilizante orgânico composto, derivado de fontes renováveis.

A abertura do evento foi feita pelo presidente da ACE, José Natalino Paganini, que em seu discurso destacou a preocupação do Grupo com as causas ambientais desde a sua fundação, em 1992. Em seguida, Girardi fez uma pequena explicação sobre o lixo e os fatores envolvidos nessa questão.

O ponto central de reflexão da palestra foi sobre o destino, inadequado, que o ser humano está dando ao lixo, material que poderia ser reutilizado e transformado em adubo para o cultivo de plantas mais sadias e sustentáveis.

Segundo Girardi, uma pesquisa realizada pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), apontou que na área onde foi utilizada uma tonelada do composto da Visafértil, obteve-se um índice de 123, 1 de produtividade. Enquanto que, quando se usou o calcário, um adubo mineral, o resultado da produtividade caiu para 97.

“No Brasil, são produzidas 200 mil toneladas de lixo urbano, diariamente. Esse número poderia ser convertido em adubo útil. Hoje, é possível se ter a partir do lixo um produto de alta qualidade, que além de aumentar a produtividade de uma área de cultivo, não causa danos à natureza. É vantajoso que o lixo continue sendo lixo, quando se trará de questões financeiras e políticas. E é essa concepção que precisa ser modificada” declarou Girardi.

É com essa ideia de inovação que a Visafértil implanta nos seus produtos e na formação do corpo de funcionários. Com sede em Mogi Mirim, a missão é transformar matéria orgânica em húmus, processo que funciona da seguinte forma: as matérias-primas passam por um longo período de maturação até se estabilizarem. Em seguida, são fermentadas individualmente até ficarem uniformizadas. Já em forma de substrato, com alto teor de matéria orgânica e nutrientes, estão prontas para alimentar as plantas.

Para o empresário, “o lixo existe porque não há um destino adequado. Quando o lixo é visto como matéria-prima, conseguimos um uso sustentável, produzindo novos produtos”, enfatizou.

O Amazonas é um dos Estados que mais produz lixo. No entanto, Girardi apontou a ação sustentável e consciente de uma quitanda localizada no município de Parintins (AM), onde as sobras de frutas são selecionadas e transformadas em compostagem. “Em Mogi Mirim, temos alguns projetos como o “Coopervida”, no qual a principal fonte de renda é o trabalho da reciclagem. Mas ainda faltam incentivos”, afirmou.

Com o lema “a educação tem o poder de mudar uma nação”, a pedagoga da Eco Escola Visafértil, Maria Emília, desenvolve projetos de educação ambiental em escolas, empresas, instituições e comunidades. Fundada em 2000, em Mogi Mirim, o objetivo da Eco Escola é formar uma sociedade consciente dos problemas ambientais, incentivando a busca de soluções através de ações positivas

“Quando cheguei para trabalhar na área educacional, encontrei uma preocupação com a questão da inclusão social, tanto que a empresa havia contratado funcionários que não sabiam ler e escrever, os quais fui responsável por alfabetizar. Hoje, os colaboradores receberam capacitação profissional e certificado do 5° ano do Ensino Fundamental, reconhecido pelo MEC/SP (Ministério da Educação e Cultura de São Paulo).

Entre os projetos concretizados, estão a capacitação universitária; uma oficina pedagógica de Educação Ambiental, o cultivo de hortas e jardins, o plantio de matas ciliares e nativas que faz parte da ação “Adote uma Nascente. Plante uma Árvore”, realizada em parceria com o Sindicato Rural de Mogi Mirim e a Escola Técnica Pedro Ferreira Alves, exposições ecológicas, seminários e fóruns.

Outro tema de debate, já tão mencionado pela mídia, foi o Novo Código Florestal. Para Girardi, esse Código está com uma proposta mais moderna. Mas, a Lei que visa à recuperação das APP (Área de Preservação Permanente) não é uma questão que cabe somente aos agricultores rurais. “A recuperação dessas áreas deve ser uma preocupação de todos”, afirmou.

Questionado sobre a construção da Usina de Belo Monte, Girardi coloca que o Governo Federal deve uma explicação sobre a matriz energética nacional. “De acordo com estudos da Unicamp, realizados em 2006, o país pode viver com 50% da energia que consome poupando 30% com conservação e eficiência, 10% com redução de perdas com linhas de transmissão e 10% com repotencialização de geradores antigos. Se os cientistas estão certos, por que não ouvi-los?”, indagou.

O ecologista ainda acrescentou “tive oportunidade de morar por quatro anos no Amazonas e os estudos de impacto ambiental não favorecem a construção da usina”.

Outros Projetos

A Mata Atlântica é um dos Biomas com maior biodiversidade do Planeta. Sua cobertura original compreendia cerca de 15% do território brasileiro. Hoje, esse número foi reduzido para 7%. Diante desse fato, com o objetivo de amenizar os efeitos de devastação, o ecologista Ulisses Girardi criou o projeto de “Preservação Ambiental Visafértil” no município de Benedito Novo, em Santa Catarina.

Entre as metas desse projeto, estão a preservação da Mata Atlântica, a recuperação das áreas degradadas por meio da reposição florestal, o enriquecimento da floresta com o plantio do Palmito Jussara, espécie em extinção e que fornece alimento para a fauna, de seis a oito meses por ano e a recuperação de nascentes.

Segundo Girardi, outro projeto é lançar um produto, de alta tecnologia, para recuperar áreas desertificadas. “Esses projetos tornam as pessoas mais sensíveis”, declarou.

Ganhador do Prêmio Socioambiental “Chico Mendes”, uma dos mais importantes na área ambiental, o catarinense, apaixonado pelas causas de preservação do meio ambiente, segue com essa sensibilidade na tentativa de transformar esse mundo para melhor.

Matéria publicada no Jornal Correio do Povo

http://jornalcorreiodopovo.oregional.net/digitalpages/122/index.html?pageNumber=9

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